18ª Bienal do Livro Rio | Crianças tiveram uma programação especial
04/09/2017[widget id=”yuzo_widget-4″]
Neste domingo, dia 3 de setembro, as crianças aproveitaram todos os espaços dedicados a elas na 18ª Bienal Internacional do Livro Rio, no Riocentro. O EntreLetras teve uma programação especial para os pequenos leitores. Em quatro dias de evento, mais de 3,7 mil crianças e adultos assistiram à sessão da fábula sobre a evolução das letras. Além da apresentação, o espaço conta com áreas sensoriais nas quais as crianças podem ouvir o mar, tocar tambor, sentir o ar, entre outras atividades relacionadas às letras e aos sentidos.
As escritoras mirins também fazem sucesso. Recepcionada por crianças, adolescentes e muitos balões, a atriz e cantora Lorena Queiroz, de apenas seis anos, fez sua estreia como autora em uma tarde de autógrafos do seu livro “A festa de Lorena Queiroz”, no palco Maracanã. “Estou adorando a Bienal. Gostei muito de encontrar meus fãs e ver o carinho deles comigo”, comentou.
O Maurício de Sousa arrancou risadas da grande plateia que participou de um bate-papo especial com o lendário cartunista. No espaço ‘Encontro com Autores’, o criador da Turma da Mônica falou sobre o recente lançamento de sua biografia “Maurício – A história que não está no gibi” e aproveitou momentos descontraídos para contar seus ‘causos’. Com diferentes gerações presentes no encontro, ele relembrou sua infância, o início da carreira, como se inspirou para criar tantos personagens de sucesso e ainda comentou os novos caminhos abertos pela tecnologia.
“A Bienal é uma celebração de cultura, conhecimento e inteligência. A frequência que encontramos aqui, de crianças, jovens, adultos, superadultos, é o que alimenta o espírito do evento. É preciso levar adiante a vontade e o desejo de continuar a ler, se informar, conhecer novos autores e novos assuntos”, disse o cartunista.
Geek & Quadrinhos
Outro espaço que também tem atraído os pequenos visitantes é o Geek & Quadrinhos. Na tarde de hoje, um bate-papo sobre cosplays reuniu mais de 70 pessoas. Os ‘cosplayers’ Thaís Abreu, Ricardo Coutinho e Renata Castro falaram do hobby, que é levado muito a sério, e contaram suas experiências no universo das caracterizações realistas. Já as oficinas para exercitar a criatividade, como a de HQ com origami e retalhos de histórias em quadrinhos, são as atividades mais procuradas no espaço.
“Essas oficinas estimulam a capacidade criadora. Não tem uma criança que não saia feliz daqui. Elas sempre se divertem e pedem para voltar em outros dias”, contou o educador do Geek & Quadrinhos, Eduardo Levy. Com apenas sete anos, a pequena Luísa Teixeira já estava de olho em outras atividades oferecidas pelo espaço. “Vou tentar montar minhas HQs quando chegar em casa”, disse.
Realidade aumentada
Affonso Solano recebeu Flávia Gasi, do Garotas Geek, André Falcão, fundador da Arco Labs, e Didi Braga, do site Matando Robôs Gigantes, para um bate-papo sobre a realidade virtual nos games e no cinema. Para os especialistas, a tecnologia criada nos anos 50, nos EUA, para simulações de voo, caminha a passos largos para proporcionar ao usuário uma experimentação cada vez mais real, mas que ainda está distante de substituir as interações humanas. “Certas tecnologias vão transformar nossas relações pessoais, mas não serão capazes de nos modificar a ponto de nos transformar em outra coisa que não seres humanos”, comentou Flávia.
Encontro com os autores internacionais
Uma legião de leitores apaixonados participaram de debates com as escritoras portuguesa Sofia Silva e a americana Abbi Glines, nas duas sessões do Encontro com Autores. Sofia, cuja história do último livro se passa em São Paulo, já é bem íntima dos seus fãs por manter uma troca através do Wattpad – plataforma para publicação que permite comentários nos textos publicados. Ela contou que esse modelo é interessante para saber o que precisa desenvolver mais nos seus livros e o que os seus leitores estão achando deles. Adaptar a obra feita da web para o físico foi uma boa experiência vivida pela escritora portuguesa, que diz ter ampliado seu público com isso.
Já Abbi Glines chegou dando um boa notícia: seu novo livro será lançado no Brasil em 2018 pela editora Arqueiro. Como eles queriam ainda mais informações, a autora foi mais fundo ao revelar que vivenciou todas as cenas picantes que escreveu. A inspiração para a continuação dos livros da saga “Rosemary beach”, sucesso no Brasil, também era um questionamento dos fãs e ela disse que não tem segredo, ela “mergulha nos personagens e vive a história deles”.
Café Literário
A primeira sessão no Café Literário discutiu os “Novos Canais Literários”. Blogs, clubes do livro, resenhas online, financiamentos coletivos e outros modos novos de contato entre leitores e livros foram tema do papo que contou com a presença de Pedro Gabriel, Daniel Pinsky, Gustavo Lembert, Priscilla Sigwalt e Gisele Eberpächer, pioneiros no processo da multiplicação da leitura.
Mediados pela jornalista Mariana Filgueiras, eles falaram sobre as fronteiras entre o livro digital e o real e acabaram com o mito de que um canal literário derruba outro. “A internet é uma experiência estendida. O livro digital é mais um canal”, defendeu Pedro Gabriel, autor que migrou das redes para os livros impressos.
Na parte da tarde o espaço reuniu Alessandro Molon, Jairo Nicolau e Murillo de Aragão para debater o tema “Reforma Política, sim, mas qual?”. O assunto, crucial para o bom funcionamento da democracia no Brasil, rendeu ótimo diálogo sobre os prós e contras dos sistemas eleitorais propostos.
O desdobramento da conversa se deu em torno do fundo partidário, de ações para que os partidos políticos não virem negócio, representatividade no parlamento (principalmente de mulheres), cláusulas de barreira e necessidade de maior participação da sociedade na política brasileira.
Para fechar o Café Literário deste final de semana, o tema “Vestindo a mesma pele” abordou a luta racial com Ana Maria Gonçalves, autora do livro “Um defeito de cor”, o cantor e compositor Martinho da Vila, o jornalista e sociólogo Muniz Sodré e o cartunista, escritor e roteirista Maurício Pestana. Além dos palestrantes, Dona Diva Guimarães, a professora de 77 anos que emocionou milhares de brasileiros ao discursar sobre preconceito durante a Flip, marcou presença no debate que falou sobre o papel da literatura no combate ao preconceito e sobre a realidade dos negros em um país em que o racismo é velado.
De acordo com Sodré, o negro sempre se fez presente na cultura brasileira. “Estamos presentes na literatura, na arquitetura e nas artes plásticas brasileira, mas sempre sob a ótica do braço”, completa. O debate reforçou a importância de quebrar o atual modelo hierárquico social, que prioriza homens brancos, dando voz ao negro, trazendo-o para os espaços de poder e o incluindo socialmente através da educação.
Além de elogiada pelos palestrantes, Dona Diva, que esteve pela primeira vez na Bienal do Livro, não perdeu as esperanças “Eu acredito na educação e nos jovens para levantarem a bandeira dessa luta. É um processo longo. Eu renasci naquele dia da Flip ao me libertar da raiva que tinha dentro de mim, mas é importante dizer que não somos vítimas. Somos vitoriosos”, comenta.
Arena #SemFiltro
Aids, gravidez na adolescência, anticoncepcionais, camisinha, educação sexual, impacto da religião, laqueadura, machismo e bullying foram alguns dos temas abordados no debate “Tudo que se você sempre quis saber e nunca teve coragem de perguntar”. Os atores Gabriela Medvedovski, Matheus Abreu (ambos em cartaz em Malhação), o escritor David Lucas (autor do livro “Tribo Adoslescente”), com mediação do médico psiquiatra Jairo Bouer, conversaram com os jovens e adultos presentes.
Segundo Boeuer, uma em cada cinco meninas engravidam antes dos 18 anos e este é o principal motivo de evasão escolar entre o público feminino. Dois em cada três jovens têm sua primeira relação sexual antes dos 16. A questão da responsabilidade dos homens aos engravidarem as meninas também foi bastante citada. Todos foram unânimes em dizer que o diálogo é a melhor forma de abordar o tema sexo, não apenas na questão física, mas principalmente emocional.
Encerrando as atividades do dia no espaço, a escritora Ana Paula Lisboa recebeu os atores Juan Paiva e Lelezinha, o diretor Jeferson De e o multifacetado Hélio de La Peña, autor do livro ” Vai na bola , Glanderson”, que deu origem ao filme “Correndo atrás”, para uma conversa sobre representatividade negra em papéis de destaque nas produções brasileiras. O filme que estreia ainda este ano conta a história de Glanderson, um garoto de origem humilde, deficiente, que sonha em ser jogador de futebol. Para Hélio, o diferencial do longa é trazer o negro como um protagonista alegre, saindo do papel marginal no qual é constantemente colocado. “Nós estávamos querendo contar uma história, mas acabamos criando algo que está um passo à frente ao reunir diretor, atores e roteirista negros. Isso, por si, criou um filme de militância”, comentou.