Crítica: Mulher-Maravilha
01/06/2017[widget id=”yuzo_widget-2″]
Antes de ler essa resenha, que tal assistir ao sensacional documentário Superheroes: A never-ending battle, no Netflix? Dividido em 3 partes conta desde as origens das primeiras HQs até o boom dos Vingadores no cinema, adoraríamos uma parte IV, por favor BBC nunca lhe pedi nada. Assistam a intro do documentário, nosso texto continuará desde ponto em diante.
O meu conhecimento sobre a 2ª guerra vêm da tênue lembrança do que o meu avô contava vez ou outra quando questionado sobre isso. Não era necessariamente um assunto importante do cotidiano, já que ele não foi um veterano da época.
Mas uma coisa que não é contado nos livros de história, é como uma situação dessa marca a vida de uma população em geral de uma maneira bem forte. O que eu aprendi é que mesmo o Brasil não sendo um dos centros ameaçados pelas bombas, o medo fazia parte do dia-a-dia. Lembrando que o rádio era praticamente o único meio de comunicação da população – a primeira transmissão de TV ocorreu em 1950 (o rádio foi em 1922). Mas é claro que esse quesito de transmissão era meio subjetivo já que pouquíssimos (e riquíssimas pessoas) podiam recebê-los.
Ele contava que em determinada hora da noite todos eram obrigados ao “toque de recolher” e a cidade ficavam as escuras, medo que algum avião atacasse o país. O programa a Voz do Brasil era obrigatório, inclusive acreditava-se na época que todos eram obrigados ao ouvi-lo por pena de prisão. Segundo ele. “Nossos pais diziam que haviam soldados andando na rua, ouvindo se A Voz do Brasil estava sendo ouvida”. E ele foi além. “Eu era jovem e acreditei naquilo, hoje imagino que seria impossível alguém ficar ouvindo se você tinha um rádio ligado, mas na época morríamos de medo de sermos presos”. Se levado para os dias de hoje onde a comunicação é algo tão veloz e mesmo assim notícias falsas causam tanto “alvoroço” nas redes sociais imaginem isso reproduzido de maneira estratosférico há 80 anos atrás quando as famílias e vizinhos reuniam-se para saber o que estava acontecendo com o mundo através de um rádio sem saber de fato se o que era falado era verdade ou mentira? Difícil mas real.
Agora peguem esse momento e transfiram para um país onde os jovens eram obrigados a deixar os outros membros da família em casa, rumo a uma guerra sem saber se se voltariam ou não? Não havia questionamento, dúvida, oposição. Era guerra, violência, desesperança.
Nesse caso o Super-Homem foi a “persona” perfeita. Mesmo com aparência humana ele era um alienígena com princípios mais “humanos” que os nossos e os adolescentes precisavam desse apoio, dessa mensagem que tudo daria certo, sempre haveriam um super-homem para nos salvar. O mundo não estava perdido.
Por outro lado o Capitão-América com seus socos em inimigos alemães e japoneses mostrou as crianças da época que podiam, hoje considerado de maneira deturpada, destruir o inimigo “estrangeiro”. Inclusive, parte desde documentário mostra essa fase. Condenável? Em um momento de guerra e de falta de esperança não. Assistam um trecho essa explicação no final do artigo e no Netflix, vamos em frente. E as mulheres, como ficavam nessa situação?
O que fariam as mulheres com filhos pequenos, sem esperança que o meu pai, irmão ou marido voltasse para casa. Uma época em que o mundo estava desmoronando.
Por necessidade elas tomaram a frente nas fábricas de bombas e armas americanas não somente porque podiam mas por que precisavam, quem mais poderia fazer isso?
Inclusive devido a necessidade de propaganda em um desses ensaios em uma fábrica descobriu-se o mito Marilyn Monroe.
Abaixo uma imagem de Norma Jeane (seu nome real), com um enorme sorrido em uma fábrica de peças para avião. E antes que perguntem, sim, as fotos tinham que passar um certo otimismo.
Inclusive anos mais tarde, em 1954, Marilyn apresentou-se diante de milhares de soldados na Guerra da Coreia, mas essa é outra história.
Chegamos lá.
Adorei participar do bate-papo sobre a personagem Mulher-Maravilha que ocorreu na loja mundo Geek, foi bastante esclarecedor e grande parte do que coloquei aqui na resenha foram dúvidas e explicações que “coletamos” em meio a mais de 60 pessoas presentes no dia.
Finalmente o filme
A última exposição na grande mídia (leia-se TV aberta) da Mulher-Maravilha aqui no Brasil foi em 1981, segundo o site InfanTV. De lá até os dias de hoje a personagem só apareceu em desenhos e nas histórias em quadrinhos, já se passaram 36 anos. Dá para imaginar que a grande maioria das pessoas só “ouviram falar” da personagem? Chega a ser surpreendente, mas real. E é pensando nesse público que este filme foi feito. Sem enrolação, fan service na medida correta e dentro do contexto e incrivelmente simples, coeso, retilíneo, objetivo.
Há quem está comparando este filme ao Super com Christopher Reeve. Eu diria que de certo modo pela objetividade sim. Não por outros contextos históricos. Isso também fica bem explicado no documentário citado acima.
E antes que continuem, é claro que não direi nenhum spoiler, mas diante da possibilidade de você nunca ter ouvido falar da personagem, quem sabe …
Este novo filme é dividido em 3 atos.
A primeira parte é quando conhecemos a origem das amazonas, o destino e a principal missão dessas mulheres maravilhosas que vivem imortais na ilha paraíso com a pequena Diana, sempre curiosa em entender o seu mundo e o sonho em ser uma guerreira.
Vale acrescentar que ela cresceu ouvindo as histórias de sua mãe sobre os grandes deuses e para ela é bastante real, afinal ela teve origem desse universo mítico.
É claro como todos vimos nos trailers, essa paz acaba quando o avião de Steve Trevor cai na ilha e elas descobrem que o mundo está frente a uma grande guerra e que Diana acredita que o grande causador de tudo é Ares, de onde originava as histórias que ouvia quando criança.
Sua mãe Hipólita é contra a saída de Diana da ilha, mas por outro lado fica bem claro que a princesa acreditava nas histórias das Amazonas e no claro destino que ela deveria cumprir.
No segundo ato vemos Diana chegando ao novo mundo e essa de longe é a parte mais interessante do filme, quando finalmente ela conhece a civilização. Eu comparo o olhar de Diana a uma pessoa que vê o mar pela primeira vez. Foi muito bonito e interessante como isso foi explorado no longa. Percebi que apesar de morar em uma ilha, e ser consciente de como uma civilização “funciona”, ela nunca pareceu assustada ou algo do tipo, sempre curiosa, atenta e ingênua em alguns momentos, – ela estava totalmente focada em sua missão, mas é claro com momentos descontraídos e uma direção sensível de Jenkins.
O terceiro ato é a revelação do grande vilão e o momento heroico para todos. É quando a personagem descobre que o que ela aprendeu na realidade não era tão claro e totalmente literal. O mal não tem somente uma origem como aprendeu enquanto vivia na ilha paraíso, o mundo é bastante diversificado e imprevisível e é nesse momento que vemos o verdadeiro crescimento de Diana não somente como pessoa mas como guerreira e deusa.
Vou acrescentar algumas respostas a questões que foram feitas durante o encontro na loja Geek.
Primeira Guerra Mundial
Até que alguém responda oficialmente sobre essa mudança para a primeira guerra mundial, especula-se que seja para evitar futuras comparações com o Capitão-América. Mas essa mudança não muda em nada de maneira histórica a origem da personagem, pois a guerra é somente o pano de fundo para a saída da Diana da ilha e não é foco da história.
Romance água com açúcar
Steve Trevor sempre foi o amor na vida de Diana, por que seria diferente nesse filme? O modo como isso é apresentado é um misto de descoberta, carinho e reciprocidade. Sem exageros.
American Way of Life
Bem, já deu para perceber que de todos da DC talvez a roupa da Diana foi a que teve uma mudança mais perceptível. Do shortinho estrelado a uma “quase” armadura grega com um leve simbolismo que lembra ao mesmo tempo o W duplo e a águia ficaram sensacionais. Agora podemos gritar. Finalmente um excelente filme de origem da DC. Podem deixar a hype em alta.
Os mega powers
Eu gostei bastante da explicação do por quê a armadura de Diana brilhar, fez todo o sentido. Mas creio que a única coisa que não gostei, mas isso é muito pessoal mesmo, foi o efeito do laço da verdade. Aquele brilho de neon é a única crítica que tenho do filme. Não sei como está representado nos quadrinhos, mas me incomodou na tela, mas deixo claro que em nada o prejudica.
Gal Gadot
Ela está longe de ser uma Meryl Streep, mas cumpriu bem o seu papel nos momentos necessários, uma inocência e personalidade forte nos momentos certos, sem “pender” para ira ou raiva. Algo totalmente explorado de maneira errônea na catastrófica série de TV rejeitada com Adrianne Palicki em 2011.
Confira um trecho do episódio rejeitado para TV, a trilha sonora não foi finalizada.
O único ponto negativo (complemento)
Sempre há tempo de completar uma resenha: Talvez o grande pecado do filme seja justamente o desenvolvimento dos vilões. Não houve tempo de uma apresentação clara, mais pé no chão dos reais objetivos de cada um deles. Tudo ficou centralizado na Diana e na missão que eles têm que cumprir e nada muito mais que isso. Novamente os vilões deixados de lado. Uma pena. Tanto que nem me lembro o nome deles.
A famosa cena da espada no vestido
Desde o trailer não quero imaginar onde a Diana enfiou aquela espada nas costas. Cena linda, legal, mas tecnicamente impossível, e mais ainda, ninguém perceber que ela estava usando aquele estranho “ornamento”. Tudo bem SPOILER, que ela tem uma recuperação rápida aos ferimentos, mas olha, haja imaginação.